Por alguns dias circulou pela internet uma página com o nome “UEM lá em
Casa”, cujo conteúdo expressava, nada mais nada menos, o machismo que impera em
nossa sociedade. Após vários protestos a página saiu do ar, assim mesmo o
episódio merece uma reflexão, já que não é a primeira nem a última vez que nos
deparamos com sites como esse em que mulheres são tratadas como mercadorias.
Por Liane M - Militante
do PSTU e ativista do MML/Maringá
“Criar um cardápio de mulheres”, essa foi a expressão
utilizada pelo tumblr para se referir a utilidade da página. O site funcionava
como um catálogo de mulheres, todas estudantes da Universidade Estadual de Maringá
e segundo a página, destinava-se a construir um “catálogo das beldades” que
estudam na UEM a partir de fotos encaminhadas por homens que conhecem estas garotas.
Se o espaço fosse devidamente construído com a autorização
das mesmas, de forma respeitosa e para que fossem admiradas sem apelo, talvez,
o problema não fosse tão grande. Mas não parece ser esse o caso. Então a
primeira questão é: Estas garotas foram consultadas a respeito da utilização de
sua imagem neste site? Porque não se trata simplesmente de uma foto de perfil
em alguma rede social e de uso pessoal, ali no tumblr “UEM lá em casa”, elas
são expostas com um propósito e tratadas como “possibilidades” para os homens
em possíveis encontros. Toda utilização de imagem pessoal que não seja feita
pela própria pessoa configura uma utilização indevida da imagem, que necessita
autorização.
Segundo e mais importante, por que além de serem expostas -indevidamente-
na internet, estas mulheres são citadas na forma de “catálogo” ou de forma
ainda pior, como “cardápio”? Até onde sabemos, cardápio é uma palavra destinada
a listagem de alimentos ou iguarias, que mediante indicação de preço, se trata
de uma mercadoria que está disponível ao consumo. Há uma contradição notória
aqui! MULHER NÃO É COMIDA! MULHERES NÃO SÃO MERCADORIAS!
E pior ainda, por que esta não é a primeira e nem a última
vez que encontramos um espaço em que mulheres são tratadas desta forma? A
resposta é direta e simples: Vivemos em uma sociedade machista! Ser mulher não
significa apenas ser tratada como um ser humano igual aos demais, ser mulher
nesta sociedade significa ser rotulada, classificada, oprimida, padronizada, explorada
e posta como mercadoria consumível.
Esta sociedade entende que mulheres são seres inferiores,
destinadas a funções menos privilegiadas, menor remunerada e limitadas a
atuação de coadjuvantes em relação aos homens, além das “naturalmente
responsáveis” pela realização de trabalhos domésticos. Pois, segundo essa
lógica, nós mulheres, tidas como o “sexo frágil” seriamos incapazes de realizar
atividades elaboradas, já que afinal de contas, teríamos nascido menos favorecidas
intelectualmente e não nos caberia outro recurso do que servir aos homens e
atender aos seus desejos.
Infelizmente é necessário dizer que não são apenas os homens
que “apreciam” este tipo de página, erroneamente muitas mulheres tomam como um
elogio ou ainda um privilégio estar catalogada assim, isto porque o machismo
reproduzido sistematicamente acaba se naturalizando entre as pessoas.
Mas é preciso lutar contra isto! Não podemos continuar a ser
classificadas e rotuladas. Todas as mulheres são seres humanos e possuem sua
beleza, os padrões que a mídia impõe, nos agride todos os dias, dizem que
estamos gordas, que temos não temos o corpo perfeito, o cabelo liso e loiro que
uma mulher bonita deve ter. Dizem o tempo todo que estamos fora do padrão e por
mais que tentemos, sempre estaremos “imperfeitas”. Tratam-nos como objeto de
propaganda nas campanhas publicitárias, apenas como mais um recurso ou uma
mercadoria a ser vendida.
Não! Nós dizemos, não! Estas ideias machistas que são
construídas sobre a mulher, justificam a existência de sites como o “UEM lá em
casa”, justifica que em espaços como este e nos meios de comunicação em geral,
se fortaleça e reafirme a ideologia machista, de que a mulher é propriedade do
homem, e que por isso estes podem fazer delas o que bem entender, é esta lógica
que reproduzida sistematicamente se materializa nos altos índices de violência
contra a mulher, fazendo com que a violência doméstica ainda seja um dos
grandes causadores de mortes entre as mulheres, mostrando é mais fácil uma
mulher ser agredida dentro do que fora de casa, ou ainda, que muitas sejam
violentadas a caminho do trabalho ou da escola. Por isso, sites como este,
nunca devem ser tratados como demonstrações de bom humor ou bem intencionados,
porque o resultado disto é a sustentação da violência.
Nenhuma mulher ou homem deve ser catalogado, pois não somos
produtos! O site padroniza as mulheres, as trata como mercadoria consumível e
catalogável. Em nada demonstra a valorização da beleza feminina, pois ele tem o
objetivo de fornecer opções do “produto” mulheres para que os homens possam vir
a “consumir”!
Manifestemo-nos diante de toda opressão, não devemos nos
calar, a luta contra o machismo é todo dia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário