sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Choque de gestão de Beto Richa se “choca” com a melhoria da qualidade do ensino e com lutas de servidores no Estado


Por Érika Andreassy[*]

Na edição do jornal “O Diário” de 6 de setembro, uma matéria chama a atenção: a de que pelo menos 900 alunos ficarão sem aulas de reforço nas disciplinas de português e matemática devido à suspensão total em 15 colégios estaduais e parcial em outros 2 das Salas de Apoio à Aprendizagem.  A medida foi tomada pela Secretaria Estadual de Educação e atinge também outras cidades, ao todo, segundo a reportagem, nas escolas dos 25 municípios que fazem parte da área do Núcleo Regional de Educação de Maringá, 28 tiveram suspensão total das aulas de reforço e 23, suspensão parcial. Apenas em 13 escolas de Maringá (e outras 13 na região) o programa continuará normalmente.

A alegação do Núcleo é de que a frequência dos estudantes às aulas era baixa, mas é interessante notar que o próprio órgão não soube informar quantos alunos vinham sendo atendidos pelo programa, e embora cada turma pudesse comportar até no máximo 20 alunos, salas que não atingiam 15 estudantes foram encerradas.

É um claro retrocesso na – já precária– política de educação do Estado. Vale destacar que o Paraná caiu no ranking da educação básica medida pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira) divulgada no mês passado pelo Ministério da Educação. Em 2011, a nota do Estado nos anos finais do ensino fundamental (6º. ao 9º. ano) nas escolas públicas estaduais ficou em 4,0 (numa escala de 0,0 a 10,0), sendo menor que em 2009 (4,1) e igual a 2007 (4,0).  No caso específico de Maringá, o município ocupa a 138ª posição no Estado no ranking do Ideb e a 1.462ª no Brasil, uma vergonha! Em termos populacionais e de importância econômica, com um PIB superior aos 7 bilhões de reais,  Maringá é a terceira maior cidade paranaense e a quinta economia do Estado.

A situação da educação no país é trágica, segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, cuja pesquisa foi produzida pelo Instituto Paulo Montenegro em conjunto com a organização não governamental Ação Educativa, apenas 26%, pouco mais de um quarto da população entre 15 e 64 anos alfabetizada, domina plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática, ou seja, é plenamente alfabetizada. Menos do que o percentual de analfabetos da mesma faixa etária, que é de 27%, sejam eles completamente analfabetos (6%) ou analfabetos funcionais (21%). A mesma pesquisa dá conta de que praticamente dois terços dos estudantes que concluem o ensino médio e um terço dos que concluem o ensino superior não dominam completamente as habilidades que os tornaria completamente alfabetizados, o pior é descobrir que esse percentual aumentou nos últimos 10 anos, o que significa que a tão propagada –e necessária– universalização da educação não vem sendo acompanhada pela qualidade do ensino que deveria ser garantida junto com esta.

Um dos nós fundamentais que impede o avanço brasileiro no quesito educação é o financiamento público do setor. Atualmente o Brasil gasta em torno de 5% do PIB em educação, apenas um quinto do montante destinado por países desenvolvidos, de acordo com levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo que reúne os 31 países mais ricos do mundo. É importante lembrar que o Primeiro Plano Nacional de Educação, elaborado em 1996, previa um investimento de 7% do PIB, entretanto, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo partido, o PSDB, é o mesmo do atual governador do Paraná, Beto Richa, vetou a meta. Lula, contrariando suas promessas e as expectativas daqueles que o elegeram, manteve o veto e, descumprindo até mesmo a Constituição que determina que a aplicação mínima da União para a educação é de 18% das receitas resultantes de impostos, durante seus 8 anos de mandato não aplicou mais que 14,5% das receitas em educação. Quanto ao governo Dilma, apesar de toda a pressão dos movimentos sociais que reivindicam 10% do PIB para a educação já, e de se dizer favorável à meta (para 2023!) enviou à Câmara a proposta rebaixada de 8%, tendo sido vencida por parlamentares ligados à educação e aos movimentos sociais que pressionavam pelo índice de 10%.

Não seria de menor interesse esclarecer que FHC à época tinha entre seus aliados, nada mais, nada menos, que o PPB, que hoje se chama PP e que é o partido da atual administração maringaense, cuja educação é um de seus “calcanhares de Aquiles” a julgar pela colocação do município no ranking do Ideb citado anteriormente. Não é mera coincidência que esse partido também pertenceu à base aliada de Lula e agora é base de sustentação do governo Dilma. E apesar de compor o governo paulista de Geraldo Alkmin (PSDB), seu principal dirigente, Paulo Maluf, tornou-se um esfuziante apoiador do petista Fernando Haddad para as eleições da cidade de São Paulo. Haddad foi Ministro da Educação entre 2005 e 2012 e atualmente é candidato a prefeito.

Quanto a Beto Richa, esse é apenas mais um capítulo de sua política de ataque e de corte de gastos com a educação pública. Em julho o governo fechou turmas do EJA (programa de Educação para Jovens e Adultos), condicionando a modalidade de atendimento individual, pilar desse tipo de formação já que atende uma clientela diferenciada, à formação de turmas regulares de no mínimo 20 alunos em cada disciplina; e demitiu cerca de 500 funcionários do regime PSS (Processo Seletivo Simplificado) no Estado, regime altamente precarizado e que por sua própria natureza submete os trabalhadores a um nível de insegurança dramático. É seu “choque de gestão”, mostrando a que veio.

Felizmente, como nem tudo na vida sai da forma nossos governantes desejam, nem mesmo quando contam com a conivência vergonhosa de direções sindicais burocráticas dispostas a “rifar” suas bases em troca da manutenção de seus privilégios, atualmente o governo paranaense enfrenta, além de uma importante greve de servidores técnico-administrativos das Universidades Estaduais que lutam por aumento salarial e a reestruturação da carreira, a possibilidade não menos real de um movimento paredista por parte dos educadores da educação básica que exigem o reajuste que o governo prometeu –e não cumpriu– para alcançar o piso nacional da educação, além dos 33% de hora-atividade previsto na Lei Nacional do Piso. É esse “choque” entre o governo Beto Richa e os professores e servidores que de fato definirá os rumos da educação no Estado do Paraná nos próximos anos. Desejamos firmemente que os últimos saiam vitoriosos nesse embate e todo apoio e solidariedade por parte de outras categorias de trabalhadores e da população em geral é fundamental para fortalecer nossos lutadores. A Educação Pública, sem dúvida nenhuma, agradece!


*Érika Andreassy faz parte da Coordenação Nacional do ILAESE e é militante do PSTU

2 comentários:

  1. Como educadora aposentada, fiquei chocada com os dados apresentados e principalmente decepcionada com a atitude do governo em relação a Educação no Paraná! É desolador! Temos que dar um basta nisso! Parabéns Erika, por esta pesquisa esclarecedora!

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  2. como professora aposentada, fiquei indignada em saber desses dados e decepcionada com esse governo que parece alheio ao que tá acontecendo com a Educação! Isso é um absurdo! tem que se fazer alguma coisa! Parabéns jovem, que escreveu esse artigo!

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